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Juliana Fonseca Martins

Embora sejam muitos os povos cujas vidas historicamente decorreram descalços, como entre etnias indígenas brasileiras, há outros cuja tradição de uso de calçados e produção de calçados é um conhecimento transmitido ao longo de muitas gerações. Antigamente considerada uma forma de arte, a sapataria contemporânea, quando não é industrial, classifica-se como artesanal.
Mauss e Ingold, assim como outros autores de áreas como a medicina e a fisioterapia apontam os efeitos de uso contínuo de calçados na deformidade dos pés.


Apesar das normas técnicas da ABNT para confecção de calçados confortáveis recomendarem variações de larguras, não há considerações sobre a biqueira, que altera a conformação dos dedos. Na sociedade industrializada, persiste um padrão de calçados que exclui muitos pés largos, um fenótipo comum entre grande parte da população brasileira. Embora a deformidade causada pelos calçados contemporâneos seja muito suave em comparação aos sapatos de lótus chineses, ainda se observa o resquício de um padrão de pé estreito e pequeno como mais bonito.


Este estudo conduzido nas artes dialoga com as ideias de agência dos objetos de Alfred Gell, a perspectiva kaxinawa de construção do corpo, a proposta de objetos relacionais de Lygia Clark e a coleta direta de contorno dos pés das pessoas através da performance Gravação de Raizes para despertar reflexões sobre a relação entre pés e calçados, entre nós e o chão sobre o qual nos deslocamos. Através de revisão de literatura de textos de antropologia, moda, arte e fisioterapia, traça-se um panorama da produção calçadista contemporânea e propõe-se uma intervenção criativa sobre os padrões de confecção dos calçados, inspirando-se em modelos consagrados por gerações, retomando também a modelagem sob medida.


Como resultado, produzimos calçados que assemelham às condições de pés descalços e analisamos as repercussões em performances diversas.

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