Aina Azevedo
Aline Paixão
Beatriz Gusmão
Elayne Felix
Gabriela Novaes
Patrícia Pinheiro
Thayonara Santos
A vivência e convivialidade no quilombo de Mituaçu (Conde, Paraíba) é afetada por diversas metamorfoses, que vão desde as transformações decorrentes do crescimento urbano e as alterações provocadas pela poluição do rio Gramame, até o ciclo de vida das plantas, dos caranguejos e outros seres que habitam a região. Aqui, nos detemos na longa trajetória de conhecimentos quilombolas desenvolvida com as plantas. Como elemento de identidade local não só de comunidades quilombolas, mas também indígenas do litoral sul da Paraíba, a relação com plantas medicinais, alimentares, de proteção ou ornamentais nos mostram um caminho para perceber a forma como a biodiversidade é cultivada criativamente e valorizada na busca de um bem viver nesses territórios.
Por meio do projeto de extensão e pesquisa “Histórias de quilombo”, diversas atividades foram desenvolvidas em Mituaçu desde 2017. Dentre elas, está em curso a formulação de uma coleção etnobotância que busca conectar às exsicatas não só seus usos medicinais, terapêuticos ou alimentares, como também suas histórias de vida. Inspiramo-nos na pintora naturalista Maria Sibylla Merian que, no século XVII, desenhava o ciclo de vida dos insetos, suas metamorfoses — ao contrário dos registros em que espécimes eram retiradas do contexto para fins comparativos. Merian nos ensina sobre as conexões existentes na natureza, na vida.
As plantas se diferenciam por habitarem terreiros, jardins ou quintais ao redor das casas; por situarem-se em canteiros, cantinhos, vasos comprados ou potes improvisados; por ficarem próximas umas das outras pois “combinam” ou “se dão bem”. Há ainda plantas que devem ficar na entrada da casa para trazer proteção; outras precisam ser protegidas das galinhas “arengueiras” ou de cachorros mais audaciosos. Algumas plantas também falam das relações entre parentes e vizinhos, pois suas mudas circulam como presentes. Plantas do mato, como a cebola de xenxém, curam picada de cobra e participam de mitos locais. Árvores frutíferas, como as mangueiras, contam histórias de devastação fúngica que marcaram o tempo.
Partindo de desenhos dos terreiros em volta da casa das mulheres quilombola, em que convivem diferentes espécies, buscamos contar a história de plantas e pessoas. As plantas não domesticadas, aquelas que pertencem às roças e ao mato também fazem parte dessa investigação em expansão. Contamos com metodologias compartilhadas que permitem construções coletivas e instigam reflexividades e perspectivas quilombolas, como a produção de tintas naturais e sabonetes com elementos vegetais da comunidade. Aqui, o objetivo não é apenas descrever o conhecimento quilombola sobre as plantas, mas criar momentos para compartilhar o conhecimento de forma criativa, dando atenção a processos e não somente a produtos.